quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Livros que fazem uma pessoa sentir-se estúpida

que é como quem diz "Ficções" de Jorge Luis Borges. 
Depois de quatro contos dos quais eu não percebi literalmente patavina, chego à "Biblioteca de Babel". Até começou bem, calminho e assim. É um conto a respeito de uma biblioteca de galerias hexagonais, de corredores sem fim e escadas em espiral, forrada a espelhos que duplicam tudo e frutas esféricas no tecto que se chamavam lâmpadas, superfícies polidas que prometem infinitos e etc, etc.
Até aqui tudo bem. Até aqui uma pessoa sempre se vai orientando e tal.
Depois começa com coisas de salas hexagonais que são uma forma necessária do espaço absoluto ou da nossa intuição de espaço... e livros circulares de lombadas contínuas que dão a volta das paredes, e bibliotecas que são uma esfera e cujo o centro é um qualquer hexágono de circunferência inacessível. Depois começa a divagar por simetrias e grafismos. Conjecturas e cifras. Corolários imediatos e tomos enigmáticos.
A coisa arrasta-se por umas dez penosas páginas, quando eu, já à beira de cortar os pulsos, leio isto: "...o símbolo biblioteca admite a correcta definição ubíquo e duradouro sistema de galerias hexagonais, mas biblioteca é pão ou pirâmide ou outra coisa qualquer, e as sete palavras que a definem têm outro valor. Tu que me lês, tens a certeza de que compreendes a minha linguagem?)."
Foi aqui que eu tive a certeza de que efectivamente o Universo gira à minha volta e de que o escritor escreveu aquelas ultimas palavras especialmente para mim. E eu, claro, vi-me na obrigação de ser brutalmente honesta. "Não Jorgito! NÃO! Não percebo ponta de corno da tua linguagem! NADA!", e depois, num acesso de crueldade gratuita do qual nada me orgulho, ainda lhe gritei "Mas tu drogas-te?!?".
Gastei eu quase €13 num livro que provoca enxaquecas... fantástico.
Eu tenho a percepção de que o homem é um génio, de que é brilhante.  Não há ali quase nenhuma frase que eu conseguisse escrever, nem que dedicasse toda a minha existência a essa única frase. Mas simplesmente há livros (ou autores) que nos vergam. Eu estou aliás, completamente vergada, ao ponto de conseguir tocar com o queixo nos dedos dos pés, vejam lá bem.

(Disseram-me que lá para a vigésima vez que se lê, a coisa começa a fazer sentido. Está bem está.)


17 comentários:

Cate disse...

Se eu lesse um livro desses, neste momento da minha vida, acho que entrava em coma.

Louise disse...

Então vá... já só te faltam 19... :P

I. disse...

Ena, um dos poucos livros que deixei nem a meio. Não percebi pa-ta-vi-na. Vá lá, não fui a única. Consola-me, saber isso.

muSic disse...

acho k vou adorar esse livro tb....lol

tem td a ver cmg!!!!
:))

Anouc, dp emprestas-me esse livro... qd o leres, claro!!
...sei k n keres deixar de o ler até ao último ponto final!!
...e vais chorar por + ...mt +!

emprestas á je aki???!!
:)

sem-se-ver disse...

bem... talvez não faça o seu género...? (pelos vistos, não faz, sou burra).

AC disse...

:)
Não desista, tentar encontrar meia dúzia de verdades nos nossos políticos é capaz de ser coisa pior. E depois, o pão e a pirâmide da biblioteca sempre nos elevam para lá das socratices...

Beijo :)

Mariana marciana disse...

Agora fiquei curiosa, vou dedicar uns 20 min na Fnac para verificar que não existe nenhum contexto em que as frases que transcreveste façam sentido ;)
Beijo

Petra disse...

oh anouck! até a mim só de ler a tua descrição ja me estava a doer a pinha.......
E olha que adoro ler!
mas isso não obrigado ta! bjo

Louco disse...

Já comprei lenha mais barata...

Catarina Reis disse...

Este livro, apesar de ser uma obra prima e uma referência do Borges, é um daqueles livros pesados para ler... quando um livro não cativa o leitor, então não vale a pena.
Beijos

meldevespas disse...

olha..talvez até já tenhamos falado disso. mas quando um livro não me agrada, não me agrada e pronto, nem que tenha sido escrito pelo Menino jesus, estou-me literalmente a cagar. a leitura deve ser um prazer, e há efectivamente alguns autores que são dificeis de ler, mas ainda assim nos enchem as medidas e valem o esforço. caso contrário então por muitos intelectuais que venham dizer o contrário, não valem um pedo!

Brown Eyes disse...

ahahahah Bem esta quinta feira estava a ser uma porcaria mas, passei aqui pelo teu cantinho e não é que a coisa melhorou? Melhorou tanto que até a maldita da vizinha do 2º. andar, que não se cala nem ela nem os malditos dos tacões que traz calçados, se calou depois de ouvir as minhas sonoras gargalhadas. Adorei o teu post mas, o que escreveu o Jorge Luís não entendi patavina. Sabes que muitas vezes se cria fama porque se escreve o que ninguém entende mas, como não querem dar parte de fracos, os leitores, é desses que estou a falar, querem ser cultos e vai daí criam fama ao escritor. Ninguém entende esse livro, esquece.
Beijinhos

NrowS disse...

Sugestões gratuitas e perfeitamente despropositadas, que ninguém mas encomendou:

- O Assassino Inglês, Daniel Silva
- What To Do When Someone Dies, Nicci French
- Renascença, Oliver qualquer-coisa
- Cinco Cidades que Dominaram o Mundo, Sr. Antunes Whatshisname

O primeiro é bom, estou a ler. Os outros é MESMO bom que também o sejam, porque são os próximos.

PS - Todos existem. Os autores, talvez existam também.

João Roque disse...

É raro isso acontecer, mas se começo a ler algo assim, confuso, só me chamo de estúpido se o continuo a ler.

Elsa disse...

Porra...Isso é o Fim! Não quero saber de Livros desses na Minha Vida, não, não não!

Anónimo disse...

"Não há ali quase nenhuma frase que eu conseguisse escrever, nem que dedicasse toda a minha existência a essa única frase."

Ge-ni-al!

Anónimo disse...

Não é fácil perceber o que ele escreve sem se perceber sobre o que ele escreve. Jorge Luís Borges foi um dos mais altos membros da maçonaria Sul-Americana e na sua grande maioria tudo o que ele escreveu está ligado a esta sociedade.

O que digo não dá nem retira valor literário à sua obra, unicamente a coloca dentro do contexto